O eu é o limite, poema de Dáfini Lisboa
O eu é o limite
[uma conversa com Sylvia Plath]
Minha amiga Sylvia, você escreveu uma coisa que eu já havia pensado
não sabia que alguém tinha colocado em palavras − tão bonitas − os meus pensamentos
e quando li foi como um soco no estômago e um afago nos cabelos
pensei “ela me entende”, é isso mesmo, Sylvia, eu também
não posso ler todos os livros que eu quero, eu também
não posso ser todas as pessoas, tampouco viver todas as vidas que eu imagino
e por que razão eu quero?
Eu quero, eu quero, eu quero!
E às vezes sinto que, de tudo, sou nada ou até sou lá assim alguém/alguma,
mas não é bem isso o que eu entendo da existência
Que atrevimento!
O querer não é poder, é o grande contrário
o querer é a abstinência
de viver ao máximo nessa selva sem ainda descobrir
o grande “segredo” de que a vida é isso aí
que a gente respira todo santo dia
o olhar-se no espelho e oferecer um bom-dia
o vazio cheio, a ausência presente, o vento parado
paradoxos efêmeros
uma vida longa num piscar de olhos
Dizem que essa é a graça!
Você diz que é terrivelmente limitada, Sylvia,
mas o que eu mais admiro em você
e em cada um de nós
são os limites de sermos nós mesmos.
Dáfini Lisboa
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