A menina e o espelho, poema de Elias Borges
A MENINA E O ESPELHO
[Todos os dias ela chora na frente do espelho. E a dor se multiplica]
A primeira vez foi com a arma do pai.
Não sabia ainda, mas já tão cedo
acordada para o destino de sofrer.
Quando a lâmina se espatifou em mil
recolheu os cacos da menina e prosseguiu.
A imagem do espelho a perseguiu.
Erma de mundanas delícias
entregou o gatilho ao vidro metalizado.
No mediastino, achou que não erraria.
Um dedo acima e o coração a zombar:
Por que amou?
Cada gota de soro respondia com desdém:
Porque às criaturas, só cabe amar.
Elias Borges
In memorian Ana Cristina Cesar
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