Balada da arrasada, poema de Charlenne Shelda


 

balada da arrasada


em nossos dedos

já não me importam anéis,

teu sangue gasto

em tons pastéis.


de ti,

somente eu

mergulhada no dentro teu me importaria.


esta eu,

para quem rezavas

lerdo e hemorrágico,

com lâminas cruas e risonhas

fincadas no trás das intenções.


eu esta,

a nossa senhora órfã,

que tua nunca

ou minha fora.

desta,

que de ti quase toda ocaso

e de mim quase toda aurora:

desta não sobrou fiapo,

não restou quirera.


de minh’alma emagrecida

no teu pasto ralo,

de meu corpo franzido

na tua tábua de passar amores,

resta uma saudade maldita,

uma vontade,

uma desdita.


não há coisa mais iminente outra:

escrever a ti um poema gris

– um verso minuto de barulho –

e lançar urgente aos cupins febris,

a mobília farta do meu orgulho.


Charlenne Shelda

Comentários

  1. Que beleza essa dualidade... quem é quem no corpo desse(a) menino(a)?

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