Encontro, de Tânia Souza
encontro
era noite de espiar horas, céu e chão
algum cachorro perdido, passarinho madruguento
- sono não
do mato ao alto, conversa de estrelas e vagalumes
eu garimpava no olho paisagem que dissolvesse solidão
ou tessitura de frescor
foi quando a onça chegou
- chegou antes, o vento
cheiro de chuva que não vinha
dançaram folhas no quintal
depois, um silêncio de ante-medo
e coisas sagradas caminhando
nos olhos da onça
um alinhavo sinuoso de luz, noite e eu
eram leves e pesados os passos da pintada
suavidade feroz na benção da lua
a onça espiou a menina que espiava
andou pelo terreiro
farejou a vida
era de uma tristeza bonita, bonita
dorso longo deslizando pelo quintal
coração bateu mais alto que o respirar
parecer de sonho, realidade inventada
febre de dor encantada
era a onça de dentro farejando, avisando
qualquer coisa de sagrada sendo
e então, ela se fez de lua, fugidia
e se foi
foi acolhendo a noite e a imensidão
as patas no quintal tatuariam lendas
eu ainda não sabia
quem vê onça, vê o entre
entende olhar de deus
Tânia Souza
Comentários
Postar um comentário