Voyeur, de Diana Pilatti
voyeur
a cidade está nua
suas verdades estão à mostra
uns se excitam
outros têm medo
querem cobri-la
a cidade ergue-se
em pelo
e silêncio
exibe suas putas
seus mendigos
um filho sem nome
caído
convulsiona a noite
olhos e asco
se reviram
mas não há volta
a cidade despiu-se das rotinas
prova a liberdade
e gosta
em uma janela rubra
uma mulher sorri-alívio
sob a marquise urina
os meninos invisíveis se mostram
a cidade nua lhes afaga
com estranheza e consolo
reverbera madrugada
nos ossos dos inocentes
igualmente nus
filhos anônimos da cidade
enfim ascendem
fluxo exponencial
números bastardos
Diana Pilatti
Poema publicado na Antologia Ócios no Ofício, organizada por Karine Bassi e publicada pela Editora Venas Abiertas, Belo Horizonte/MG, em 2020 (página 22).
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