Palavra comida em carne viva, poema de Ligia Prieto


 

Palavra comida em carne viva 


eu posso falar de poesia

do vento

da chuva

do que quer que você queira

poesia é gente comida 

em carne viva

é osso roído em abandono

grito no escuro distante

saudade cheia de vontade

fome que não passa é nunca

é cheiro que invade sem licença

que salta os miolos do estômago

os grilos da cabeça aos pés do ouvido

Sem chance de gritar aqui

é de atropelamento que se vive

e aos poucos segue o caminho

sem perna

sem braço

sem tronco

cheinho de barranco

do lado de dentro daqui


Ligia Prieto

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