Tarja Preta entrevista: Diana Pilatti

 


Nossa entrevistada de hoje é Diana Pilatti, poeta e professora da rede pública de ensino. Nasceu em Foz do Iguaçu/PR, mas mora em Campo Grande/MS desde a infância. Formada em Letras, pela Universidade Católica Dom Bosco, e Mestre em Estudos de Linguagens, pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Coorganizadora da Mostra Poetrix, edições 2020 e 2021, e autora dos livros de poemas Palavras Avulsas (2019), Palavras Póstumas (2020), Palavras Diáfanas, Editora Patuá (2021), e seu último lançamento Haicais e outros poemínimos, volume 10 da III Coleção de Livros de Bolso do Mulherio das Letras, livro de poemas curtos divididos em duas seções: haicais e tercetos temáticos, nos quais a poeta captura a leveza e a brevidade do mundo. Publicou poemas em diversas coletâneas e revistas literárias. Faz parte do Coletivo Literário Mulherio das Letras e do Coletivo Literário Independente Tarja Preta. Divulga poesia em seu blog pessoal www.dianapilatti.com e nas redes sociais @dianapilatti

Em seu novo livro, Haicais e outros poemínimos, Diana Pilatti reúne haicais e poemas curtos, escritos entre 2019 e 2021, organizados por temas que abordam o instante fotográfico da vida: pequenas sinestesias, a paisagem noturna, a brevidade da natureza e microaflições do cotidiano, além da saudade e da efêmera temporalidade humana, seus temas mais recorrentes. A obra é resultado de um exercício constante da escrita poética concisa, na forma do terceto, e paradoxalmente densa, por sua multiplicidade de sentidos. O livro também conta, em seu interior, com ilustrações em nanquim de Maria Angélica Chiang, artista Argentina, radicada em Mato Grosso do Sul.




1. Conte um pouco sobre você e sua trajetória profissional.

Aos quinze anos eu já havia decidido que seria escritora, queria escrever romances policiais, sempre gostei das histórias detetivescas. Mas eu tinha consciência das minhas limitações e sabia que tinha que estudar muito para tal. Fui fazer o curso de Letras e no meio do caminho me percebi mais poeta do que prosadora. Iniciei publicando em sites relacionados à literatura, por volta de 2007, depois coletâneas e revistas, em 2019 lancei meu primeiro livro, Palavras Avulsas, na I Coleção de livros de bolso do Mulherio das Letras. E neste ano lanço meu quarto livro, Haicais e outros poemínimos, na III Coleção de livros de bolso do Mulherio das Letras. 


2. Por que escrever? O que torna a literatura importante para você? 

Escrevo para me sentir viva e continuar vivendo neste mundo. No passado, quando jovem, eu sentia que escrever era, em parte, como um registro da minha existência no mundo, era a maneira que eu conseguia dizer “Estou aqui e assim sou.” É claro que crescemos, e as prioridades mudam, precisamos batalhar para ter um teto sobre a cabeça e comida no prato. Então, a literatura ficou de lado, dando espaço para o trabalho e os estudos. Porém, foi entre 2016 e 2017, em um momento de crise que, durante uma conversa, uma pessoa me fez o seguinte questionamento: “O que falta em você? Você deixou de lado algo importante, algo que faz você ser você e não outra pessoa. Quem é você?” Essas perguntas foram impactantes para mim naquele momento, e eu só conseguia pensar: Escrever. Foi quando iniciei um processo de organização de escrita, de busca de estilo e de priorizar meu amadurecimento para publicar. Parece exageradamente dramático dizer que “a Poesia salva”, mas para mim foi exatamente isso. E na Pandemia, isso ficou mundialmente evidente, precisamos da Arte para viver. 


3. Fale um pouco sobre seus processos de escrita? E quando a inspiração foge, quais táticas usa para retomar as rotinas de escrita?

Há momentos que escrevo mais ou escrevo menos, mas tento sempre escrever. Tenho algumas cadernetas que uso para rascunhos, ideias aleatórias, frases ou até mesmo lista de palavras. Não sou uma pessoa matinal, então não consigo “levantar cedo para escrever”, como muito autores fazem. Minha cabeça funciona melhor à noite, então é antes de dormir que aproveito meu tempo para escrever. Neste último mês, tenho trabalhado bastante na reescrita de um conjunto especial de textos, que pretendo transformar em um livro, para lançar em 2023. 


4. “Haicais e outros poemínimos” seu quarto livro. O que esta obra tem em comum ou diverge das obras anteriores?

Meu primeiro livro era composto por poemas diversos relacionados à metalinguagem, tema que gosto muito, por isso chamei de Palavras Avulsas. O segundo livro apresenta ao leitor poemas que dialogam com um tema único: a violência contra a mulher. Inicialmente este livro se chamaria “Apenas um corpo sobre a cama”, mas durante o percurso de revisão e reescrita, mudei para Palavras Póstumas. Já o terceiro livro, Palavras Diáfanas, fala de amor, saudade, e ressurreição. Tânia Souza me ajudou a escolher esse nome, então a chamo de madrinha de batismo, na dedicatória deste livro. Este título foi escolhido, pois a leitura do livro proporciona essa sensação translúcida, líquida e ao mesmo tempo leve... são realmente poemas diáfanos. O livro que lanço no próximo dia 26 de março, é um apanhado de poemas curtos, que organizei em haicais e tercetos temáticos, que gosto de chamar de poemínimos. Enfim, são livros com temas e motivações distintas. Talvez o que eles tenham em comum, são os poemas curtos, que gosto de escrever e sempre publico, e a metalinguagem, o poema que fala de si mesmo, da sua feitura e das palavras que o compõem. 


5. O livro traz ilustrações de Maria Angélica Chiang nas páginas que dividem as seções do livro. Conte para nós como as ilustrações conversam com os poemas dentro do livro. E como é trabalhar em parceria com uma artista ligada às artes visuais?

Acredito que as ilustrações dentro do livro acrescentam sentidos aos textos, no caso de Haicai e outros poemínimos, as ilustrações foram feitas com base em poemas que constam no livro ou nas imagens que eles evocam. Contatei Maria Angélica Chiang e lhe apresentei a proposta: 10 ilustrações em nanquim para dividir as seções do livro. Ela topou o desafio. Então, lhe enviei as propostas de imagens: garça, tulipa, dama da noite com mariposa, jaçanã, pipa, folhas de figueira, tesourinha na flor de ipê, magnólia com abelha e uma releitura da Noite Estrelada, de Vincent van Gogh. Dessa maneira mesmo, sem dar grandes detalhes para deixar a artista mais livre para criar. O resultado são estas imagens leves e líquidas, que dialogam perfeitamente com os poemas do livro. 


Ilustração de Maria Angélica Chiang para o livro Haicais e outros poemínimos de Diana Pilatti.

Ilustração de Maria Angélica Chiang para o livro Haicais e outros poemínimos de Diana Pilatti.


6. Por que escrever haicais no Brasil e em pleno século XXI? 

Há uma paz silenciosa no haicai. Mesmo que o nosso haicai já não seja como o haicai oriental, depois de atravessar o tempo, as fronteiras e as traduções/adaptações ao nosso idioma. O haicai é leve, quase que fotográfico. E ao mesmo tempo desafiador, quero dizer, como colocar uma ideia em tão pouco espaço?  Assumo que, em vários momentos, fujo à essência tradicional do haicai e deixo-o denso acrescentando uma multiplicidade semântica, possibilitando ao leitor mais possibilidades de sentidos – e isto é um dos efeitos que mais gosto na poesia diminuta, o dom das possibilidades. 


7. O tempo e a saudade são temas recorrentes nos poemas deste livro, há um motivo especial para esta escolha?

Sinto uma saudade constante. Não sou uma pessoa nostálgica, na verdade, penso que o passado deva ficar lá, às cinzas do tempo. Mas tenho um sentimento de falta recorrente, e tento traduzi-lo em poesia, pois de outra maneira, para mim, é difícil explicar como me sinto. Quanto ao Tempo, este é o mais sádico dos deuses, que se deleita das nossas agonias ante a finitude do mundo e de nós mesmos, pequenos humanos, presos dentro desta casca de carne, repletos de ideias e sonhos, sem tempo para tal... 


8. Tem algum texto preferido no seu livro? Qual? (transcreva aqui para nós) E o que o torna tão especial?

É difícil escolher textos preferidos, cada dia amo (e odeio) um poema diferente. Mas vou escolher um haicai um terceto que considero muito belos dentro do livro:


nas tardes de inverno

passarinho compõe salmos

sonho entre os ipês


Gosto deste poema, pois traz elementos do haicai tradicional, como a marca da estação do ano (o kigo) no primeiro verso, fujo da tradição ao colocar uma metáfora quase que sinestésica no segundo verso, e encerro evocando a leveza do sonho, uma certa sensação de paz entre os ipês. 


TRAVESSIA


toco a prata líquida

ante o espelho da memória – persigo

minha eu-outra


Neste poema, exploro a multiplicidade, ao explorar os sentidos em espelho da memória e o intertexto, dialogando com clássico Alice através do espelho. Porém, a eu-lírico não se aventura no mundo invertido de Alice, mas mergulha em si mesma, perseguindo sua eu-outra numa viagem ao passado, já que o espelho que atravessa é o da memória... 



 


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