"Bentinho e Capitu" crônica de Ligia Prieto

 


Li hoje cedo sobre isso e durante o dia me pulsou os pensamentos de uma vida inteira, os pensamentos de sempre. Presos numa estrutura capitalista e patriarcal, as chances de Capitu deixar de ser ela mesma foi a única capaz de fazê-la existir dentro de uma amarração tradicional de família. De encontro com sua liberdade, chamada de dissimulada, Capitu tinha a liberdade de uma mulher que vive com desejo de viver. Isso chama sua atenção, chama a minha, chama a de todas as pessoas do mundo, pq não há uma pessoa capaz de ignorar um voo incrível de um pássaro livre. E chama a atenção de Bentinho tbm, que se apaixona pela liberdade com desejo que essa liberdade seja propriedade. Curioso esse pensamento de aprisionar a liberdade. Dá errado desde antes de 1890. Mas até hoje insistem nisso. A liberdade é um segredo, aprisioná-la é matar o possuidor do segredo da esfinge. Sem Capitu, Bentinho acabou com todas as possibilidades que tinha de tocar no centro do mundo. A exilou de si, exilou a mulher e a mãe. Não satisfeito, nunca mais os vê, só tem notícias da morte de Capitu, e ao encontrar seu "filho", com questionamentos machistas e grosseiros, já o percebe tbm amarrado no destino do fim. Era um menino sensível. Bentinho matou Capitu, e também o próprio filho, porque semear tristeza e abandono só nos destina ao mesmo fim, a inexistência de si.


Ligia Prieto

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