Uma Crônica de Vini Willyan


Talvez pela memória tátil do meu pé, quando piso na casa de minha avó, estou de algum modo de volta a infância. Pelo pé, pois sempre andei descalço. Aqui eu sei o nome de todos os endereços, e tenho uma confiança enorme em dizer com linhas imaginárias onde mora fulano. Há uma rua chamada Tupaciguara que se emendou com outras ruas e mudou de nome. Há uma padaria que mudou de dono e que ainda chamo de padaria do Cesar. Fica ao lado do mercado do Seu Joaquim que é ao lado da casa que era de Ana. Eu volto a infância para remendar minha memória que é bastante criança. Não por lembrança apenas, mas para dar substância a essa energia que me convida a ser. Aqui é sempre infantil, os vasos das plantas, os potes que guardam comida na geladeira, o céu entre as folhas. Tudo sempre fresco fervilhando curiosidade. Gosto de voltar a ser pelos pés que me andam, e de voltar a ver pelos olhos que me olham. Sem isso me morro, uma morte de chinelos 40 BR e 9 USA. E quando digo morrer, não me refiro ao corpo, mas as ruas cobertas de asfalto, os terrenos queimados e o vazio de céu de pássaro. Me refiro ao confronto desse fluxo de eterna mudança que desacompanho e me devora. Então por isso sim, não apenas volto no tempo, também o paro. 


Vini Willyan

Comentários

Postagens mais visitadas